quarta-feira, 19 de março de 2014

Aiwass, o “Anjo” de Aleister Crowley.


Sim, H.P. Lovecraft sonhou com seus obscuros deuses amorfos, Aleister Crowley os viu pessoalmente. Tal é o caso de Aiwass, anjo que, segundo Crowley, lhe ditou o polemico Livro da Lei (Líber Al vel Legis) durante o dia 8, 9 e 10 de abril de 1904.

Aleister Crowley menciona que primeiro ouviu uma voz tenebrosa que dizia, num inglês impecável:

"Contempla! O que será revelado por Aiwass, o ministro de Hoor-Paar-Kraat.”
(Behold! it is revealead by Aiwass the minister of Hoor-paar-kraat)

Logo determinou que o nome Hoor-paar-kraat correspondia ao egípcio Har-par-Khered, ou, em sua versão grega, a Harpócrates, que na concepção extravagante de Aleister Crowley seria nada mais nada menos de que Hórus, a deidade central de sua cosmogonia.

Aiwass se apresentou como uma voz sobrenatural que flutuou sobre o escritório de Aleister Crowley no Cairo. Egito. Este por sua vez logo se descolou para seu ombro esquerdo e começou a ditar desde o canto do quarto. Sua modulação era confusa, indeterminada, tal como i ocultista expôs taquigraficamente em seu diário pessoal:

"(Sua voz era) de um timbre profundo, musical, expressivo; seu tom de voz era solene, voluptuoso, terno, feroz ao decorrer de sua mensagem. Nunca baixo tal vez como a de um virtuoso tenor ou um barítono."
(Of deep timbre, musical and expressive, its tones solemn, voluptuous, tender, fierce or aught else as suited the moods of the message. Not bass, perhaps a rich tenor or baritone).

Logo compôs um desenho de Aiwass, bastante acabado, onde ele o revela composta por uma fina matéria, translúcida, alta; de feições delicadas. Sempre que se pedia que detalhasse o rosto de Aiwass, Aleister Crowley dizia que sua cara era uma de um rei selvagem (Savage king), seja lá o que for que ele entende por rei e por selvagem.

Porém Aiwass não tem nada a ver com a noção de "anjo" que qualquer um de nós poderia elaborar. O Anjo de Aleister Crowley se diferencia de todos, inclusivamente dos "anjos caídos". Dominado pela emoção de que estava contatando uma inteligência superior, Crowley aclamou:

"A existência de uma religião pressupõe a certeza de alguma inteligência desencarnada, chama de Deus ou qualquer outra coisa. E justamente isto é o que nenhuma religião pode até hoje demonstrar cientificamente... A imensa superioridade desta inteligência em particular, Aiwass, ou qualquer outra com que a humanidade haja por algum momento se comunicado conscientemente, se revela somente por um caráter de livro em si, por causa de seu entendimento absoluto que transcende todos os testes, pois rege os mesmos."

Mai tarde, Aleister Crowley conjectura que Aiwass, talvez, é somente uma manifestação minúscula de uma potencia celestial, e se identifica com seu próprio anjo da guarda, ou o Sagrado Anjo Guardião.

O interessante deste assunto é que qualquer explicação que caia sobre Aiwass, quer que seja um vulgar anjo da guarda, um espírito, ou o próprio inconsciente do Crowley. Ambas as possibilidade são, em toda regra, sobrenaturais.

Outros estudiosos, como Sarah Vale e Joshua Gunn, estima que o estudo narrativo de Aiwass indique se parece demasiado ao de Aleister Crowley, para tratar-se de uma entidade "estrangeira", isto é, as narrativas de Aiwass, e as de Crowley são demasiadas parecidas. Igualmente extravagantes em certos pontos. O mais provável e, repito, igualmente 'assombroso' é que Aiwass seja uma idealização subjetiva de Crowley, o que alguns podem chamar de centelha divina (ou não), sobre sua própria personalidade. Isto acontece frequentemente, num nível mínimo, posso dizer que, é onde nos imaginamos senhor de várias virtudes e assombrosas qualidades intelectuais. O curioso é que aqui a idealização cobra uma forma física, uma voz, um nome, e uma doutrina.

Ainda sim, as coincidências cabalísticas do nome Aiwass revelam um forte componente inconsciente em suas materializações. Por exemplo, o tipógrafo Samuel A. Jacobs, que não conhecia pessoalmente Aleister Crowley, lhe escreveu uma carta mencionando que seu primeiro nome, em Hebreu, se escrevia: Shmual Bar AIWAZ bie Yackou". Intrigado, Crowley lhe perguntou como se escrevia "Aiwass" em Hebreu, o que Jacobs, respondeu polemicamente: "OIVZ". Ao fazer números, Crowley, perplexo, e seguramente saltou de sua sala ao estimar que esta fórmula equivalha ao número 93, cifra esta, que coincide com o valor gemátrico de Thelema, a doutrina ditada pelo próprio Aiwass.

A voz e a silhueta de Aiwass se foram diluindo como em um sonho do qual terminamos de despertar. Aleister Crowley, que de toda foram é um notável poeta, elegeu o caminho de análise e do racionalismo esotérico, para explicar os mecanismos enigmáticos de sua própria psique, por acaso conectados com "sensibilidades" de uma ordem superior. Outros homens, talvez mais sensatos, que conectarem suas visões aterradoras que seja com um veículo mais nobre para que possamos usar para expressar aquilo que não tem uma expressão positiva: a arte. Tal é o caso das extravagantes visões de William Blake ou as fantasmagorias gelatinosas de H.P. Lovecraft.


Vale aclarar que o meio não modifica o fim. Em outras palavras, não importa se poetizamos sobre nossas visões ou lhe consignamos ingenuamente como atos complexos, afinal, os ventos estelares e as formas gigantescas que emergem do colapso detrás dos mundos, terminam aniquilando a qualquer um que se atreva observá-las diretamente.

Um comentário:

  1. É a primeira vez que escuto falar sobre esse ser (Aiwass), o Aleister Crowley e o mundo do ocultismo. Muito interessante e informativo!

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