domingo, 12 de maio de 2013

Eterno Retorno


Estamos sempre presos a um número limitado de fatos, fatos estes que se repetiram no passado, ocorrem no presente e se repetirão no futuro, como por exemplo, guerras, epidemias, etc.

Com o Eterno Retorno Nietzsche questiona a ordem das coisas. Indica um mundo não feito de polos opostos e inconciliáveis, mas de faces complementares de uma mesma múltipla, mas única—realidade.

 (A imagem representa o Ouroboros, que é um simbolo metafisico que representa  o infinito muito utilizado na alquimia.) 



&241& "E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez, e tu com ela, poeirinha da poeira!”“. Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderias "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?" pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?" - A Gaia Ciência

&56& "Aquele que, movido como eu por uma espécie de desejo enigmático, se esforçou por muito tempo em meditar o pessimismo em suas profundezas, em livrar o mesmo da estreiteza e da tolice meio cristãs, meio germânicas, com as quais se apresentou finalmente durante este século, isto é, sob forma de filosofia de Schopenhauer, aquele que considerou realmente uma vez, sob todos os aspectos, com olhos asiáticos e super asiáticos com o pensamento mais negativo que já houve no mundo - essa negação do universo para além do bem e do mal e não mais, como Buda e Schopenhauer, sob o encanto e a ilusão da mora _ esse talvez abriu os olhos sem querer precisamente para o ideal contrário, para o ideal do homem mais impetuoso, mais vivo, mais afirmador que haja no mundo, o homem que não aprendeu somente a acomodar-se com o que foi e com o que é, mas que quer também que o mesmo estado das coisas continue, tal como foi e tal como é, e isso por toda a eternidade, gritando sem cessar "bis", não só para si, mas pela peça inteira, por todos o espetáculo e o torna necessário, por que tem sempre necessidade de si mesmo e porque se torna necessário. - Como isso não seria "Circulus vitiosus deus"? - Além do Bem e do Mal
Gilles Deleuze argumenta que o único mesmo que retorna é o próprio retornar, ou seja, o eterno retorno é o ser de todo o devir e aquilo que é selecionado pelo retorno é apenas o que é capaz de afirmar sua diferença. Para ele, a diferença é a potência primeira, constituída no acaso do encontro entre duas ou mais forças como diferença intensiva, determinando uma tipologia de forças ativas e reativas, vontade afirmativa e niilista. Não existem, assim, identidades previamente estabelecidas, cada retorno é um novo lance de dados que pressupõe o esfacelamento da identidade, a dissolução de todo sujeito. O retornar é a criação do novo a partir das diferenças que vão ao limite de sua potência, verdadeira força de metamorfose que expulsa de seu movimento toda identidade. 
Nietzsche nos dá o Eterno Retorno como uma saída, que consiste em buscar a criação na destruição; só nessa complementação que podemos transcender e reafirmar a vida em detrimento dos valores que envenenaram a humanidade e negaram a vida, sobretudo, aqueles simbolizados na cruz.



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