Levy-Bruhl, há quase 74 anos atrás escrevia que
uma consequência sobre a reflexão científica sobre a moral levaria
concomitantemente há um "ceticismo moral". Será?
Um primeiro medo: a morte da moral por
"contaminação" cientifica. Tais medos foram anunciados há quase um
século. Depois de 100 anos de ciência moral, com Piaget e vários outros
estudiosos, como estamos? Ela morreu, enfraqueceu-se, modificou-se?
Eis realmente uma pergunta difícil de ser
respondida! Há, sem dúvida uma certa ideia de crise moral no ar, uma certa
insatisfação, uma preocupação expressa de várias formas. A barbárie da guerra
permanece em lugares que pareciam ser razoavelmente "civilizados",
como a ex-Iugoslávia. A televisão banalizou o horripilante espetáculo da
miséria e da morte: "O horror", escreveu Edgard Morin, "milita a
favor da indiferença e o crescimento da indiferença cria um campo livre para o horror
num circuito fatal onde ambos se realimentam". Ideologias nazistas e
fascistas, que, acreditava-se, estavam enterradas, ressurgem em países do
Primeiro Mundo. O individualismo burguês infantilizou-se pelo narcisismo,
levando ao descaso generalizado pelo espaço público, à apatia nas questões políticas,
ao desprezo pelos deveres da cidadania, etc. Até a Igreja Católica manifesta
sua preocupação através de sua encíclica Veratis
Splendor (de 1993), quase inteiramente dedicada ao resgate da moral cristã,
“ameaçada por uma verdadeira crise”, como
escreve João Paulo II. Enfim, há um mal-estar inegável, pelo menos entre aquele
minimamente atentos à evolução das relações sociais.
Podemos nos perguntar, todavia, se aquilo \ que
assistimos hoje é realmente novo. Barbárie, sempre houve; indiferença e descaso
com relação aos sofrimento alheios, também; autoritarismo, racismo, fanatismos
e outros ismos também sempre
existiram. Nem mesmo a lei individualista de “levar vantagem em tudo” é nova.
Se puder servir de consolo, leiam-se os conselho que, no século passado, Balzac
colocou na boca de sua personagem Vautrin (no romance Le Père Goriot): “A honestidade não serve para nada(...) a
vida é assim; é como na cozinha, fede tanto quanto, e é preciso sujar as mãos
para regalar-se (...) Saiba evitar os apuros: aí está toda a moral de nossa
época (...) sempre foi assim. Os moralistas não poderão mudar coisa alguma
(...) O homem é imperfeito.”
Foi a barbárie que regenerou muitas
civilizações moribundas – Meffesoli, M. Le temps dês tribus, op. cit.
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