segunda-feira, 20 de maio de 2013

Tempo de Despertar (1990) Awakenings


Em Bronx, grande Nova Iorque em 1969, algo desperta. Vemos logo que o titulo do filme é bastante sugestivo, no verão do referido ano manifestações dramáticas, e acima de tudo, conscientes surgiu naquele ano, em pacientes pós-encefaliticos.
Anteriormente, era normalmente chamadas de estátuas, estátuas estas que eram submetidas a tratamentos animalescos, deixando a vista a pouca ou nenhuma importância que os pacientes com doenças, sobretudo, crônicas recebiam, tanto os pacientes como os próprios empregados do recinto, até mesmo nos primeiros dez minutos de filme vemos grades por todo o hospital, infelizmente não só por questões de segurança.

Dr. Malcolm Sayer, representado no filme por Robin Williams, neurologista recém-formado e com um gosto por pesquisa cientificas aparece neste contexto, despreparado, sem esperar muita coisa, porém despertar algo em seus colegas de trabalho, mães dos internados e posteriormente até mesmo nós próprios internados. Ao começar a trabalhar efetivamente no hospital, Dr. Sayer se encontra com vários desses pacientes em estado catatônicos e tentando assim procurar algumas similitudes entre eles. Primeiramente surge a pergunta inicial “eles realmente estão completamente catatônicos?” A primeira descoberta diz que não, por mais que ainda seja uma simples hipótese: “A vontade da bola” ainda é algo exterior, e que eles reagem a ela.
Em meio a pesquisas, como de costume e bom grado do Dr. Sayer ele descobre uma droga que está em estado experimental e que normalmente é usada para pessoas com diagnóstico de Mal de Parkinson a L-DOPA, essa droga promete sensibilizar e relaxar uma pessoa que tem Mal de Parkinson a fim de lhe dar uma vida mais “normal”. O Mal de Parkinson é descrito como movimentos progressivos devida a uma disfunção dos neurônios secretores de dopamina nos gânglios da base, a hipótese do Dr. Sayer era justamente essa progressão ao extremo, causando assim, uma paralisação do individuo.

Após muita luta contra os “patronos”, leia-se, investidores e com o consentimento do familiar (refiro-me ao Sr. Lowe), ele consegue enfim aplicar a droga no paciente a espera de um possível resultado. A partir daí vemos um paradigma ético, porém no que confere a psiquiatria é difícil imaginar um outro ramo da atividade humana que suscite maior número de inquietações e dúvidas de ordem ética. Isso ocorre decorre dada à própria natureza do objeto com que trabalha a ciência psiquiátrica, ou seja, a mente humana e suas patologias. Nós como dotados de razão conferimos uma “liberdade”, e o que fazemos com um outro, qual consideramos “sem razão”? Há muito o que se discutir ainda a respeito do que confere a competência ética da psiquiatria, no filme há a integridade do homem e a possível cura e avanço da ciência. Kant desde muito tempo discutiu sobre a integridade ética na ciência, ele dizia esta ser a ferramenta principal e imune de exigências morais.  Rodeada de termos vagos e abstratos vemos que até mesmo para a própria medicina o termo “ética” é considerado como algo genérico, e está dividida pela o que as pessoas acreditam que seguem e o que “bom” e “ruim”. Não pretendo me estender mais.

O filme acaba com mais um insucesso cientifico mas com forte calor no coração tanto dos envolvidos como do espectador. Tais reflexões como esta, dada pelo filme, torna-se pertinente para reconhecermos como é falha e pragmática a ética médica, quando se refere a pesquisa em seres humanos, tal como a (dês)humanização constante em hospitais psiquiátricos. Um lugar onde se propõe curar e estabilizar as doenças mentais pratica-se a reprodução de uma violências constante e muda.

domingo, 12 de maio de 2013

Eterno Retorno


Estamos sempre presos a um número limitado de fatos, fatos estes que se repetiram no passado, ocorrem no presente e se repetirão no futuro, como por exemplo, guerras, epidemias, etc.

Com o Eterno Retorno Nietzsche questiona a ordem das coisas. Indica um mundo não feito de polos opostos e inconciliáveis, mas de faces complementares de uma mesma múltipla, mas única—realidade.

 (A imagem representa o Ouroboros, que é um simbolo metafisico que representa  o infinito muito utilizado na alquimia.) 



&241& "E se um dia ou uma noite um demônio se esgueirasse em tua mais solitária solidão e te dissesse: "Esta vida, assim como tu vives agora e como a viveste, terás de vivê-la ainda uma vez e ainda inúmeras vezes: e não haverá nela nada de novo, cada dor e cada prazer e cada pensamento e suspiro e tudo o que há de indivisivelmente pequeno e de grande em tua vida há de te retornar, e tudo na mesma ordem e sequência - e do mesmo modo esta aranha e este luar entre as árvores, e do mesmo modo este instante e eu próprio. A eterna ampulheta da existência será sempre virada outra vez, e tu com ela, poeirinha da poeira!”“. Não te lançarias ao chão e rangerias os dentes e amaldiçoarias o demônio que te falasses assim? Ou viveste alguma vez um instante descomunal, em que lhe responderias "Tu és um deus e nunca ouvi nada mais divino!" Se esse pensamento adquirisse poder sobre ti, assim como tu és, ele te transformaria e talvez te triturasse: a pergunta diante de tudo e de cada coisa: "Quero isto ainda uma vez e inúmeras vezes?" pesaria como o mais pesado dos pesos sobre o teu agir! Ou, então, como terias de ficar de bem contigo e mesmo com a vida, para não desejar nada mais do que essa última, eterna confirmação e chancela?" - A Gaia Ciência

&56& "Aquele que, movido como eu por uma espécie de desejo enigmático, se esforçou por muito tempo em meditar o pessimismo em suas profundezas, em livrar o mesmo da estreiteza e da tolice meio cristãs, meio germânicas, com as quais se apresentou finalmente durante este século, isto é, sob forma de filosofia de Schopenhauer, aquele que considerou realmente uma vez, sob todos os aspectos, com olhos asiáticos e super asiáticos com o pensamento mais negativo que já houve no mundo - essa negação do universo para além do bem e do mal e não mais, como Buda e Schopenhauer, sob o encanto e a ilusão da mora _ esse talvez abriu os olhos sem querer precisamente para o ideal contrário, para o ideal do homem mais impetuoso, mais vivo, mais afirmador que haja no mundo, o homem que não aprendeu somente a acomodar-se com o que foi e com o que é, mas que quer também que o mesmo estado das coisas continue, tal como foi e tal como é, e isso por toda a eternidade, gritando sem cessar "bis", não só para si, mas pela peça inteira, por todos o espetáculo e o torna necessário, por que tem sempre necessidade de si mesmo e porque se torna necessário. - Como isso não seria "Circulus vitiosus deus"? - Além do Bem e do Mal
Gilles Deleuze argumenta que o único mesmo que retorna é o próprio retornar, ou seja, o eterno retorno é o ser de todo o devir e aquilo que é selecionado pelo retorno é apenas o que é capaz de afirmar sua diferença. Para ele, a diferença é a potência primeira, constituída no acaso do encontro entre duas ou mais forças como diferença intensiva, determinando uma tipologia de forças ativas e reativas, vontade afirmativa e niilista. Não existem, assim, identidades previamente estabelecidas, cada retorno é um novo lance de dados que pressupõe o esfacelamento da identidade, a dissolução de todo sujeito. O retornar é a criação do novo a partir das diferenças que vão ao limite de sua potência, verdadeira força de metamorfose que expulsa de seu movimento toda identidade. 
Nietzsche nos dá o Eterno Retorno como uma saída, que consiste em buscar a criação na destruição; só nessa complementação que podemos transcender e reafirmar a vida em detrimento dos valores que envenenaram a humanidade e negaram a vida, sobretudo, aqueles simbolizados na cruz.



domingo, 5 de maio de 2013

Como anda a moral em nossos dias?


Levy-Bruhl, há quase 74 anos atrás escrevia que uma consequência sobre a reflexão científica sobre a moral levaria concomitantemente há um "ceticismo moral". Será?

Um primeiro medo: a morte da moral por "contaminação" cientifica. Tais medos foram anunciados há quase um século.  Depois de 100 anos de ciência moral, com Piaget e vários outros estudiosos, como estamos? Ela morreu, enfraqueceu-se, modificou-se? 

Eis realmente uma pergunta difícil de ser respondida! Há, sem dúvida uma certa ideia de crise moral no ar, uma certa insatisfação, uma preocupação expressa de várias formas. A barbárie da guerra permanece em lugares que pareciam ser razoavelmente "civilizados", como a ex-Iugoslávia. A televisão banalizou o horripilante espetáculo da miséria e da morte: "O horror", escreveu Edgard Morin, "milita a favor da indiferença e o crescimento da indiferença cria um campo livre para o horror num circuito fatal onde ambos se realimentam". Ideologias nazistas e fascistas, que, acreditava-se, estavam enterradas, ressurgem em países do Primeiro Mundo. O individualismo burguês infantilizou-se pelo narcisismo, levando ao descaso generalizado pelo espaço público, à apatia nas questões políticas, ao desprezo pelos deveres da cidadania, etc. Até a Igreja Católica manifesta sua preocupação através de sua encíclica Veratis Splendor (de 1993), quase inteiramente dedicada ao resgate da moral cristã, “ameaçada por uma verdadeira crise”, como escreve João Paulo II. Enfim, há um mal-estar inegável, pelo menos entre aquele minimamente atentos à evolução das relações sociais.

Podemos nos perguntar, todavia, se aquilo \ que assistimos hoje é realmente novo. Barbárie, sempre houve; indiferença e descaso com relação aos sofrimento alheios, também; autoritarismo, racismo, fanatismos e outros ismos também sempre existiram. Nem mesmo a lei individualista de “levar vantagem em tudo” é nova. Se puder servir de consolo, leiam-se os conselho que, no século passado, Balzac colocou na boca de sua personagem Vautrin (no romance Le Père Goriot): “A honestidade não serve para nada(...) a vida é assim; é como na cozinha, fede tanto quanto, e é preciso sujar as mãos para regalar-se (...) Saiba evitar os apuros: aí está toda a moral de nossa época (...) sempre foi assim. Os moralistas não poderão mudar coisa alguma (...) O homem é imperfeito.”



Foi a barbárie que regenerou muitas civilizações moribundas – Meffesoli, M. Le temps dês tribus, op. cit.