domingo, 19 de outubro de 2014

Metafisiologia do Olho Apaixonado


A vida resguarda em si, inúmeras surpresas; É neste sentido em que muitos, ditos filósofos, detentores do pensar, afirmam as multiplicidades. As multiplicidades do encontro, do saber, do olhar, e, sobretudo, do amor.

Das várias formas de amar, de se apaixonar. Das várias formas também de olhar o amor, os signos correspondentes desta multiplicidade/singularidade.

Meio a tantas multiplicidades, em que lugar fica as repetições? Eventos casuais, que aparentemente parecem que nunca mais hão de se repetir. Verdadeiramente impossível. Mas há casos especiais, há casos estritamente espirituais, que hão de acontecer sim, de forma semelhante.

É ai, neste sentido, que entrar o olho. Que certamente, num local diferente, momento, duração e memória diferente, olhará ele, pois então, por sua fisiologia complexa, de forma diferente.

Assusta-me o fato, de haver poucos escritos a respeito do olho. Parte elementar do sujeito humano, enquanto singularidade e coletividade. O olho é social, individual. O olho é dos fantasmas, das potências, do medo, da alegria, do pai, mãe, mas também de todo o mundo. O olho comporta também, atualidades, virtualidades. A forma de como o olho empreende a vida, está intimamente ligada aos músculos que a ligam, que o move. Extensividade e intensividade. Rigidez e flacidade.

O olho é um órgão bastante interessante, sem dúvida. É a nossa “parte” mais espiritualizada corpórea. É com o olho que se dá, se fabrica, engendra, reflete todos os estados do espírito. Os olhos são os espelhos da alma. Ele é intimamente movido pela multiplicidade. Com movimentos sempre de dentro para fora e fora-dentro. Dentro-do-fora, fora-do-dentro...

Os olhos tem um papel fundamental, também, no aprendizado. Não que seja engendrado ou funcione somente para isto, para esta faculdade. Como multiplicidade, os olhos são todas as faculdades possíveis, como já ditas, até das faculdades espirituais. Não pense que somos segregacionistas, ou hiperbóreos por dar esta supervalorização aos olhos, excluindo assim, deste texto, aqueles tidos como “cegos”. Não é somente destes olhos que estamos falando. Os olhos podem tomar posições, locais de afectos e afecções de formas múltiplas, apoiando sempre a diferença. Há o ditado: Enxergar com os ouvidos e ouvir com os olhos.

Desta forma também os olhos são os órgãos, potência, que mais se cansam do corpo. De todo o corpo. Pois a todo o momento, ele está a ver, perceber, olhar, decifrar, interpretar os hieróglifos, signos, que a todo o momento o violentam. Mas ele não o faz alvo de coitadismo por isso, o contrário.

Há, inclusive, um tipo específico de signos que arrebata os olhos, o contraria de forma tão acirrada que me sinto forçado a comentar algumas linhas, a respeito. São estes, os signos da paixão.

Comentarei, no entanto, um tipo específico, por conta da complexidade do tema. Um tipo especifico que acomete os olhos de forma que o contraria de todas as formas. As paixões induzidas por coincidências (repetições) espirituais (diferença).

Grosseiramente, no âmago das multiplicidades, muitas vezes relacionadas com o caos, pensar em repetição para muitos pode até mesmo ser um tanto quanto contraditório. Não é bem assim, digo. Há certas repetições que acontecem, por que são determinadas por alguma entidade superior. Coincidência.

O exemplo, de se encontrar com uma pessoa que lhe toma, arrebata aos olhos, arrebata todo o corpo, de forma tão complicada... O signo se enrola de tal maneira aos olhos, que é quase impossível dele se conter, quase impossível dele se soltar, relaxar.

Seus músculos ficam tão enrijecidos, apaixonadamente, que apesar do signo se enrolar de maneira tão complicada, tão amarrada, tão agressiva, a ponto de marcar a pele, aos olhos, ao espírito, a essência, que toda esta violência torna-se prazerosa. É neste sentido que somos todos masoquistas.

Neste momento, a dor é tão apavorante, e igualmente prazerosa, que pode um pequeno limiar podemos dizer que parcialmente nós arrebatamos no sentido mais puro da palavra, é possível sentir a quase-morte/arrebatação com o corpo frio, a a-subjetividade; A duração e o tempo dissipa-se. Por um curto período de tempo (metodicamente podemos dizer que alguns milésimos de segundos) não nos conhecemos, não reconhecemos gênero, raça, cor, nacionalidade...

Somente a vida a favor de sua diferença, a vida a favor dela mesmo, sua multiplicidade e suas misturas. Neste sentido podemos re-afirmar também o discurso que o pensamento só vem depois.

Ao voltar deste arrebatamento é que vamos engendrar o pensamento para decifrar toda esta violência a que fomos asujeitados.

Por estarmos perplexos, e a criação denotar um certo tempo, o signo por vezes pode escapar, estes costumam ser um pouco Trickster.

Porém, há ainda a re-afirmação de vida, que é necessária que surjam estas de dentro, interiormente, mas que podem sim ser produzidas a partir de um encontro. Num encontro potente. Estas re-afirmações de vida, seriam o que, comentado anteriormente, as coincidências espirituais. A repetição que traz consigo a sua diferença.

O reencontro com o signo, este signo Trickster, até então impossível devido à multiplicidade que comporta a macropolitica do qual ele está envolvido, todo o território, porém agora carregado de toda diferença, que trará assim imagens aos olhos, experiência, violências, complicações, inquietações, embriaguez completamente novas e distintas. Afirmando mais uma vez a vida e toda a sua mistura.

Exemplo, o primeiro encontro: Dante está num dia completamente distinto, pagando uma conta, num banco qualquer, longe de casa, nem perto de onde costuma andar, ou pagar suas contas. Encontra um moço na fila do banco. Sem contato pois Dante foi arrebatado.

Segundo encontro; Ao virar a noite, após uma noite cheia de problemas e pensamentos arredios, mergulhado num tédio sem fim; Dante, ao amanhecer, sai para caminhar, esfriar a cabeça, pelo bairro, sem destino, prometendo somente entrar por ruas antes, nunca entradas, somente para caminhar e fumar um bom cigarro de palha. No meio do caminho, ao finalmente se sentar e pegar o cigarro, por coincidência espiritual, acaba por encontrar o moço, o Trickster, novamente. Filho de Telekompensu, o caçador e pescador.



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